Para pesquisadores da UnB, café deve ser incluído entre alimentos funcionais
Apesar de ser preferência nacional, o café é, para muita gente, um prazer saboreado com culpa. Doenças cardiovasculares e úlceras são alguns dos vários males que vêm sendo associados à bebida. Agora, dois pesquisadores brasileiros não só afirmam que o café não tem malefícios comprovados como propõem que ele seja considerado um alimento funcional -grupo de alimentos que protegem o organismo contra doenças, ao qual pertencem, entre outros, a soja e o azeite.
"O café tem importância na prevenção de doenças metabólicas como o diabetes e ajuda a diminuir o risco da doença de Parkinson, do mal de Alzheimer, de cirrose e de cálculos da vesícula biliar"
Professores titulares da UnB (Universidade de Brasília), Teresa Helena Macedo Costa e José Garrofe Dória fizeram um levantamento de cerca de 200 pesquisas mundiais nas quais se verificou a relação do café com a saúde. O estudo, denominado "Is coffee a functional food?" (o café é um alimento funcional?), foi publicado neste ano na revista científica internacional "British Journal of Nutrition". A pergunta expressa no título foi respondida no fim do artigo. "Chegamos à conclusão de que a resposta é sim", disse à Folha a pesquisadora.
Folha - Por que o café é considerado um vilão da alimentação?
Teresa Helena Costa - As pesquisas em nutrição foram mudando ao longo dos anos. Antes, os nutricionistas se preocupavam mais com o estudo de balança, ou seja, era importante ver quanto da alimentação em termos protéicos, energéticos e de nutrientes era fornecido aos indivíduos. Essa perspectiva dominou na época em que os quadros de desnutrição eram muito mais graves. Hoje, começamos a ver a funcionalidade do alimento e não apenas o suprimento de nutrientes essenciais. Apesar de não ser um alimento que supre a necessidade básica, o café é nutritivo também, pois atua na proteção da saúde. Esse conceito, da funcionalidade do alimento, é novo. Por outro lado, algumas pessoas têm uma secreção gástrica mais abundante, e o café acelera esse processo.
Folha - A sua pesquisa detectou características negativas no café?
Costa - A idéia era fazer um levantamento bibliográfico comparando aspectos positivos e negativos. Mas, quando começamos a pesquisar, vimos que, relatados cientificamente, só havia aspectos positivos. Um aspecto negativo, que faz muitos cardiologistas colocarem o café como vilão, seria a elevação do colesterol. Só que isso ocorre na preparação não coada, que é o café turco, como chamamos aqui, quando uma parte da borra é ingerida. Nesse preparo ocorre uma elevação do colesterol.
Folha - Quais são os benefícios do café?
Costa - Ele tem importância na prevenção de doenças metabólicas como o diabetes e ajuda a diminuir o risco da doença de Parkinson, do mal de Alzheimer, de cirrose e de cálculos da vesícula biliar. Isso não quer dizer que ele nos livre disso tudo. O café não é um alimento milagroso. Mas os consumidores habituais, que tomam acima de três xícaras por dia, já têm benefícios. Outro aspecto interessante é o fato de o café dar um certo grau de vigília e de prontidão. Se ele nos deixa com mais disposição, afeta nossa capacidade de trabalho e de fazer exercícios, por exemplo. Além disso, a cafeína favorece a oxidação de lipídeos, ou seja, a queima de gordura. Mesmo pequeno, esse aumento pode fazer diferença em algumas situações. Outro aspecto interessante é que ele é uma boa fonte de antioxidantes, que ajudam a combater os radicais livres.
Folha - De que forma o café protege contra o diabetes?
Costa - Os mecanismos dessa constatação ainda estão sendo pesquisados, mas foi relatado que ele reduz a chance de seu aparecimento. Foram feitas pesquisas com um grande número de pessoas na Noruega, na Suécia, na Holanda e nos Estados Unidos. O estudo holandês, por exemplo, acompanhou 17 mil sujeitos e mostra que quem tem costume de tomar habitualmente café apresenta menor chance de se tornar diabético. Mais pesquisas têm que ser feitas, no entanto, voltadas para a nossa população. Somos os maiores produtores de café, mas, efetivamente, não conhecemos que benefícios ele traz levando em conta a forma como o preparamos.
Folha - Quais componentes do café provocam esses benefícios?
Costa - Muita gente associa o café apenas com a cafeína, mas ele é um alimento bem mais complexo. Do café é possível obter magnésio, potássio e ácido nicotínico, que é uma vitamina do complexo B. Os ácidos clorogênicos também são substâncias importantes, cujos benefícios para o tratamento de alcoólatras e viciados são muito estudados.
Folha - Que quantidade de café deve ser consumida?
Costa - O que se tem visto é que quem toma mais de duas xícaras por dia é considerado um consumidor habitual. Mas precisamos de mais dados para chegar a uma dose recomendada. Obviamente, comer qualquer coisa em excesso não faz bem para ninguém.
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